23 de setembro de 2012

Amanhã, não mais.

Jogaremos os livros às traças.
Que diferença faz se ninguém os lê?
Cessaremos com os gritos por liberdade.
Que diferença faz se ninguém os ouve?

Que diferença faz se os sonhos
podem ou não tornar-se realidade?
São desacreditados sem sequer
serem ponderados e,
assim, jogados ao vento.

Rasgaremos a constituição,
encerraremos os debates,
sejam políticos
religiosos,
científicos ou
futebolísticos.
Aceitemos nossa própria hipocrisia.

Sentaremos em frente à uma TV
comprada à prestação e assistiremos
cheios de pesar às tragédias inocentes
de simples indigentes.
Morreram 20 assassinados,
5 foram estupradas,
700 esperam em hospital.
Hora da novela, boa noite.

Votaremos, silenciosamente.
Aplaudiremos, sonoramente.
Protestaremos, hipoteticamente.
Viveremos, ridiculamente.

Jogaremos os livros às traças.
Que diferença faz se ninguém os lê?

20 de setembro de 2012

Banco da praça

Sentados no velho banco da praça,
a discutir nossos ideais, partilhar nossos desejos.
Lá estávamos nós, uma vez mais a trocar informações,
partilhar emoções, esclarecer contradições.

Lá estávamos nós, sentados no banco da praça,
jovens almas sedentas por descobrir um pouco mais da vida.
Que prazer ao discutir o que hoje não se discute!

O que nos restou são cadeiras confortáveis de escritório, 
elas nos fazem esquecer do velho banco da praça, e junto se vai
os ideais, os valores, os sonhos, as crenças, as dúvidas e as respostas.

12 de setembro de 2012

Funeral

Quando se for com a aurora
tua alma a planar pelo vazio,
baixaremos nossas cabeças,
uma noite choraremos lastimados.

Os ventos assoviarão tristemente
homenagearão a carne sob a terra,
nos lembrarão do sangue derramado
e partirá-nos o coração à ruína da vida.

O sino da capela anuncia a vinda,
daquele que não mais virá à nós.
Lembraremos ainda e ver-te-iremos,
ainda que seja preciso um momento de paz.