30 de dezembro de 2012

Olhos que brilham.

O tempo leva pra longe paixões penetrantes
faz daqueles amores, paisagens distantes.
Faz de antigos inimigos, amantes,
de velhos amigos, passantes. 

Queria ter ao meu lado,
quem agora só vejo num retrato. 
Pensamentos borrados 
daqueles tempos amados.

Talvez o tempo indobrável
traga de volta o que foi roubado
de um coração indomado.

E que se desfaça o pacto 
que um dia fiz com o diabo
para inibir meu amor.

28 de dezembro de 2012

Rosa esquecida.

O perfume daquela rosa era diferente;
Senti o cheiro do passado. Era tão bom...
Naquela rosa estava minha esperança,
minha constante alma admirada.

Aquela rosa que lhe dei,
foi tão real quanto o que temos agora.
Por um momento parecia tão belo,
mas teremos que deixá-lo no escuro.

Assim como a rosa que lhe dei
também teremos que deixar-nos pra trás.
Como se tivéssemos aproveitado o suficiente,
como se estivesse destinado àquele fim.

Assim tristemente, a rosa foi negada, 
por culpa do destino, do acaso arraigado.
Seu desabrochar não seria visto,
Seu perfume não seria apreciado.

E agora, em algum frio banco de praça,
a rosa que dantes nos aproximava,,
agora está condenada a definhar.

18 de dezembro de 2012

17 de dezembro de 2012

21/12/2012

  Há algumas horas fiquei sabendo que o mundo ia acabar. Os rumores eram variados, mas o fato era incontestável. Todo mundo já sabia e talvez eu tenha sido o último. E, pra falar a verdade, eu não ligava muito. Ligava menos ainda para o motivo: meteoros, alienígenas ou Jesus, dá tudo na mesma no fim das contas. 
  Meu apartamento de classe média parecia estranhamente apertado. Decidi sair à rua por algum tempo. Duas coisas me chamaram atenção à primeira vista: Havia congestionamento em todas as ruas (provavelmente tentando sair da cidade) e a multidão que se dirigia às igrejas. Eu ri das duas. Da primeira eu ri pois é irônico que as pessoas passem seus últimos minutos de vida enlatadas dentro de um carro, aonde perdem várias horas de seus dias fúteis. Da segunda... bem, não sei direito, a possibilidade da existência de um deus naquele momento parecia patética. 
  As lojas estavam abandonadas e, obviamente, foram saqueadas. De novo eu esbocei um sorriso ao pensar que a ideia de trabalhar quando se pode aproveitar o último dia de sua vida é ridícula. Entrei em uma dessas lojas de conveniência e peguei uma garrafa do melhor uísque e um cigarro. Eu não fumava, mas por que não começar agora? Eu não iria morrer de câncer mesmo... Bebi e fumei como um rei.
  Quando saía da loja decidi pegar uma barra de chocolate. Não estava com fome, mas estava à mão e ninguém iria se importar. Enquanto Andava pela rua pensei que seria passar meus últimos minutos de vida no lugar que mais gosto. Mais um sorriso. Entrei em um prédio desconhecido. Os apartamentos estavam todos abandonados, com as portas abertas... A futilidade consumista parecia ridícula naquela altura. TVs, videogames, computadores... tudo abandonado. Entrei em um dos prédios, a sensação nervosa de que eu estava roubando aflorou em minha mente. Não liguei. Achei o que procurava: peguei uma caneta e uma folha de papel e sentei na sacada. 
  Dizem que quando há a eminência da morte, as pessoas se lembram de quem amam. Dessa vez ri largamente. Não pensei em ninguém. Talvez eu não amasse ninguém... mas, e daí? O caos lá fora diminuíra... o desespero dera lugar às orações. Orações desesperadas. Mas pelo menos entorpeciam as pessoas. A morte doeria menos para elas. 
  Comecei a rabiscar algumas palavras... logo uma estrofe de uma poesia apareceu, em traços seguros. Achei cômico escrever aquilo, já que ninguém leria. Inclinei a cabeça para continuar escrevendo. Ouvi um barulho vindo da sala. Era um cachorro. Estava deitado no canto, provavelmente sentindo que algo estava errado. Mas ele não estava desesperado, nem ao menos latia. Ao meu chamado se levantou e deitou-se no meu colo. Acariciei sua cabeça e pensei que não havia melhor companhia para a morte. 
  Tentei escrever. Outro barulho. Vinha da porta de entrada dessa vez. Uma mulher magra, com cabelos lisos, não muito feia entrou. Voltei os olhos para o papel em minha mão, que era mais interessante. Ela gritou comigo. Algo sobre querer ser comida antes de morrer. Não liguei. Não ia passar meus últimos minutos de vida comendo alguém que nem conheço. Não sei o por que. Só não estava afim mesmo. Ela então sacou uma arma e deu dois tiros. Matou-me no mesmo instante. Aproximou-se de mim, arrancou o papel de minha mão e leu:

Não importa o quanto tentemos ser bons,
mesmo com a última badalada do sino que prevê a morte, 
temos a incrível capacidade de sermos fúteis e desejarmos
nada mais que estarmos vivos, mesmo sem viver. 
Quando a morte chegar, estarei então preparado e

  Ela chorou por alguns minutos, não pela minha morte, mas porque queria saber o que eu escreveria a seguir. Então um forte estrondo se ouviu no horizonte, o chão tremeu e não se viu mais nada. 
  E eu não vivi para ver o fim do mundo. 

15 de dezembro de 2012

Cavidades poéticas


Sombras mortais condensadas em desejos abstratos.
A felicidade diluída em cápsulas, três vezes ao dia.
Símbolos de liberdade acorrentam opiniões.

Ideais fúteis retocadas em sangue.
Os olhos fechados para orar, perdem
o reality horror show que ninguém quer ver. 

Corrosão mental e inspiração demoníaca:
argumentos que mascaram a denúncia evidente
que a parca elite tenta acobertar em divinas marcas de status.

O destino sagrado da predestinação foi tirado de deus
e dado aos poucos porcos, fadados ao assassínio cruciante,
por meio de poder e direitos inumanos, inconscientes e ilógicos.

Tronos e armas, cravejado em diamantes, 
crivam em nós, submissos e dormentes
o doce ardor da alienação intermitente.

13 de dezembro de 2012

Vou-me-volto

Queria lhe dizer que vou embora,
pra nunca mais voltar.
O mundo é grande demais,
pra eu simplesmente te esperar.

Era grande a esperança
de que viesses comigo,
mas compreendo agora
que não passo de um amigo.

Quem sabe um dia voltarei,
com um beijo não dado.
Não lhe escreverei,
nem mesmo deixarei recado.

Mas sinto que este não será
nosso último contato.
Nossas vidas ainda serão,
colocadas num retrato.

10 de dezembro de 2012

Lágrimas secas

Havia vinho naquela taça.
Envenenado talvez... e talvez eu soubesse
antes mesmo de bebe-lo.

Matar-me? Penitência miserável!
Queriam ver-me sofrer, em meio a sorrisos frouxos
e palavras desnecessárias.

Havia vinho naquela taça... Envenenado talvez.
E fez-me perder as lágrimas. Secaram-[se]. Secaram-[me],
não consigo chorar... o pranto simplesmente não sai.

E em meio à chicoteios profanos no sagrado coração pecador,
fico eu, amuado, desemparado.
Cego em meio às belas paisagens deslumbrantes,
que antes faziam-me crer e agora só provam que eu estava errado.

Pois como é lindo, florido e variado, o mesmo cemitério
que antes fazia as lágrimas descerem, amargas,
à lembrança de um de nós que já se foi.
Mas eu não sei esquecer, não consigo mais chorar.

E um amor, que se vai, roubado pela bondade divina,
simplesmente me ensina,
que em deus também não se pode confiar,
a menos que já se espere que o pior não te faça mais chorar.

1 de dezembro de 2012

Apê 20-12

Tenho um vizinho, 
que é meio mal encarado, 
que mora ali ao lado 
e veio me buscar.

Ele não gosta de preto,
não gosta de viado,
não gosta de engomado,
mas veio me chamar.

Ele não gosta de traveco,
não gosta de judeu,
não gosta de plebeu,
mas quer o que é meu.

Por favor, me deixa aqui ficar,
pois logo ali ao lado
tem um Senhor malvado
que diz que vai me amar.

Ele não gosta de puta,
não gosta de cigano,
nem de muçulmano,
mas diz que é humano
e veio me salvar.

Ele não gosta de estrangeiro,
não gosta de roqueiro,
e nem de motoqueiro,
Ele diz que é maneiro
e veio me ensinar.

Por favor, me deixa aqui ficar,
pois logo ali ao lado
tem um Senhor malvado
que diz que vai me amar.

Ele não gosta de divórcio,
não gosta de ateu,
nem de filisteu,
mas Seu amor é meu.

Ele não gosta de pobre,
não gosta de ciência,
nem de outra crença,
mas veio me testar!

Por favor, me deixa aqui ficar,
pois logo ali ao lado
tem um Senhor malvado
que diz que vai me amar.

Logo ali ao lado,
tem um cara parado,
que parece estar armado
e veio me matar.

É melhor tomar cuidado,
o velhinho ali sentado
pode se zangar.

[Inter]ligados.

Considere-me preso 
ao teu destino,
ao teu delírio, 
ao teu martírio. 

Sinto que sou mais
que um bom amigo,
um ex mesquinho,
um futuro desalinho.

Sem demora eu espero,
um sinal incerto,
um desejo eterno,
um beijo sincero.

De uma conversa a sós,
eu vejo em nós,
futuros viajantes,
pra sempre amantes.

De olhos fechados,
vivendo ao acaso,
esperando que você
não demore a perceber.