3 de novembro de 2013

Pequeno Texto de um Existencialista

Eu estou cansado. Cansado de fingir ser algo que não sou, cansado de tentar me reinventar. Passou da hora de encarar a verdade: não sou. Simplesmente. Me modelo a partir de outras mentes, me vejo a partir de outros olhos e sinto a partir de outras mentes. Eu? Não existo enquanto ser humano. Sou apenas uma massa amórfica, um pedaço de carne que não se sustenta a não ser que correntes me levantem, ao mesmo tempo que me prendem.
Liberdade!
Que bela palavra. Mas estou cansado de fingir que há nela um significado. É mais uma mentira que nos permite viver em paz, com esperança. É o Deus dos ateus! Não me importarei mais com liberdade. Não me importarei mais com o que nunca serei. A partir de hoje, decreto morto o espírito que me carrega. A partir de hoje, serei apenas aquilo não sou. Não sou.
E que esteja, pois, nessas palavras, o óbito da pseudo-alma que declarei ter. Que seja a morte. Mas se alguém que vê aqui motivo de luto, não se aborreça.

Não se deve chorar com a morte de uma mentira.

20 de outubro de 2013

Graças a uma paixão fria
me esqueço ao virar a esquina. 
Me deixo pra lá pra buscar 
alguém com quem possa conviver. 

Não quero mais me ver, 
me submeter aos meus próprios luxos
aos meus lixos e aos mitos que criei.
Quero distancia de tudo aquilo que inventei.

Então digo adeus a mim, 
até logo ou nunca mais.
Me ame menos ou encontre 
algo que valha a pena amar.

15 de agosto de 2013

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Não me sinto bem. Estou com raiva, cansado dessa vida medíocre. Em uma palavra, estou puto. E não sei por quê. Simplesmente não sei. O pior é que não posso descontar uma fúria que não tem origem, que não foi provocada. Tudo o que posso fazer é punir a mim mesmo. E me puno todos os dias, na mesma vida escrota, sem graça, cotidiana que todos desejam.
Eu gostaria que alguém fizesse algo que merecesse minha ira. Qualquer coisa! Algum idiota esbarrar em mim e derrubar minha cerveja, ser traído, ser ofendido... Ah! se alguém me batesse do nada! Eu ficaria eternamente grato, realmente feliz com esse gesto de compaixão. Eu poderia me zangar sem me sentir culpado. Poderia explodir em socos, pontapés e palavrões. Poderia bater, e apanhar, por que não?
Me sinto frustrado. Nunca li O Lobo do Mar e até hoje deixei Dostoiévski de lado... Não me sinto bem sabendo que vivo como um fracasso. Se existo, é medíocre. Essa é a palavra: mediocridade. Há quanto tempo nada de excitante acontece... Nem me lembro mais. Só me lembro de que um dia eu tive sonhos que valiam a pena ser perseguidos. E como tinha vigor para persegui-los! Hoje, mal levanto meus olhos quando passo na calçada.
Que alguém me provoque, por deus! Que alguém me permita soltar todos os demônios que sufocam minha existência. Que apareça alguém para eu simplesmente fazê-la chorar. Humilhar. Passar de mim essa angústia que me tortura dos modos mais bárbaros. Transferir para outrem essa fúria que apedreja minha alma e aprisiona minha mente. Quero ser liberto e apenas isso. Liberto de quê, me perguntas? De mim mesmo, penso. Quero me afastar desse meu ser que tanto me aprisiona.

13 de julho de 2013

Conversa sincera

"E se, ao contrário do que todos pensam, o interesse humano consistir em buscar não um bem, mas um mal?"

Dostoievski

À felicidade, meus sentimentos.
Que descanse em paz.
Matamos a felicidade com uma dose de descrença.

A névoa de falsidade foi se dissolvendo...
Revelando a verdade,
a triste verdade,
a nua e fria... verdade.


É a verdade! É ela que nos separa da mentira, é claro!
E há mentira maior que nossa própria felicidade?
E há verdade maior que a verdade é apenas ilusão?

Um bem? Morrer talvez...
Beber até a morte,
Fumar até a morte,
Viver até a morte.

Sim, a morte nos desprende
dessa terrível mentira chamada vida.

17 de junho de 2013

Vermelho

A verdade é que perdi. 

Tudo o que tive por algum tempo se foi, 
como se o verão houvesse chegado.
A chuva insistiu em cair o tempo todo
e quando chego em casa... o tempo se abre.

O vermelho e o verde se misturam,
como se fossem uma só cor. 
E por algum tempo, a arte resultante 
embriagou os corações mesclados.

A confusão se desfez por algum tempo, 
para se formar novamente, como tempestade.
Em copo d'água que seja, 
mas quem nunca se engasgou ao beber muito depressa?

Não temo que seja o fim, 
não porque não seja.
Disso ninguém tem certeza.
Não temo, pois soubemos ser.
Fomos. 
E foi suficiente.

Nada que digam vai mudar o que foi. 
Não de fato. Nem de mentira.
Só de nós. E o nós... Que sentimos.

A chuva insistiu em cair o tempo todo.
Mas uma hora o tempo se abre. 
Sempre abre. 
Para se fechar de novo.

8 de junho de 2013

Quem me dera

Quem me dera pudesse eu te amar
com a facilidade de outrora.
Beijar-te sem preocupações,
sem as repulsas de outras bocas.

Quem me dera pudesse te olhar
com a inocência virgem do primeiro amor
sem as veredas pungentes do ciúmes,
sem as náuseas de outras camas.

E olho a ti como quem pede, desesperado
reacenda em mim aquele amor que está morto,
lembre-me da paixão que sufoquei irado.

Tenha fé nas palavras que um dia lhe dei,
tire-me dessa piscina de merda que entrei.
Faça-me esquecer que um dia você me esqueceu.

11 de maio de 2013

Viagem.

A gravidade tomou conta do meu corpo e pressionou-me contra a terra.
Pensei que não aguentaria todo o peso do universo, mas mantive meus pés firmes.
A cada tropeço um desejo: de que os cosmos abrissem passagem. E que me deixem!

Eu vi o mundo girar cada vez mais rápido na direção contrária. 
Voltou a música e veio novamente cada vez mais alto, mais baixo, mais depressa.
A cada compasso eu dançava com as cores que vinham da melodia, da harmonia. 

E sem aviso prévio, a gravidade se dissipou.
A cada passo a terra ficava menor. Eu era a terra, a água, o fogo e o ar.
Por um momento eu fui você. E vi você em mim, do outro lado da sala.
O calor gelado da fogueira confundia minha pele. Não sabia mais o que era o frio. O quente não existia. 

Descobri um novo mundo, percebi que não existem verdades nem mentiras.
Apenas versões. Interpretações.
Percepções do nada que existia.

4 de maio de 2013

Cilício

Eu volto
me revolto.
Sofro calado.
Ouço demais.
Gritos e rangidos.
E bateres de porta.
Como odeio os bateres de porta.
E os olhares de ódio.
As juras de morte.
As ameaças...

A dor no peito,
o ranger de dentes,
as pernoites de olhos abertos.
Quer dizer... meio abertos, meio fechados
a cada lágrima que escorre, ardendo.
E continuam os dedos na cara,
os gritos de raiva,
a vida destroçada,
a cada segundo que passa.

Ouço demais,
Sofro calado,
Volto,
me revolto.

1 de maio de 2013

Pequeno conto de um suicida


Nunca havia reparado naquele cara estranho. Tinha o rosto jovem, mas cansado. Profundas olheiras e um olhar que transmitia certo desespero silencioso. Além disso, sua camisa estava amarrotada e sua gravata estava frouxa, como quem não se importa.  “Quanto desleixo”, pensou. 
      Uma sensação de repugnância aflorou à primeira vista. Depois... pena. Edgard se lembrou do que ouviu na igreja no mês passado (não era de frequentar muito): se compadecer dos necessitados e desesperados. Bem, ele não parecia muito um necessitado, mas com certeza parecia desesperado.
- Bom dia, sou Edgard. – disse estendendo a mão. O rapaz tomou um susto tão grande que quase caiu da cadeira. Continuou:
 – Nunca o vi no escritório, é novo por aqui?
- Não. Estou aqui há 3 anos, nesta mesma mesa. Nunca fiz questão de ninguém me ver e também ninguém nunca fez questão em me ver. É uma boa troca.
- Entendo. Qual seu nome?
- Charles.
- Bom, Charles, você não está com uma cara muito animada. Sua aparência não é das melhores, se me permite dizer.
- Não se preocupe, não vai mais precisar se incomodar comigo aqui. É meu último dia.
- Foi demitido?
- Não.
- Se demitiu?
- Também não
- Então o que???
- Se quer mesmo saber, é hoje que vou ter o dia mais importante na vida de um homem.
- Que bom! Vai se casar? Ter um filho?
Uma risadela esnobe surgiu nos lábios do rapaz.
- Nada disso, meu caro. O dia mais importante da vida de um homem é o dia de sua morte!
- Está doente?
- E é preciso estar doente para morrer?
- Se não, de acidente...
- Ou de auto execução. Um ato último de coragem, que poucos encaram. Hoje brindarei minha última dose!
Edgard aos poucos entendia o que ele queria dizer.
- Olha, nenhum motivo é grave o suficiente para tirar a própria vida. Porque se você...
- Para por aí. – Charles interrompeu. Eu vim até aqui hoje justamente pra refletir dos motivos que estão me levando a tomar essa decisão. Se você quer conversar, façamos isso a noite, na minha casa.
- Promete ouvir o que tenho a dizer? – Esperava tentar evitar que Charles se matasse.
- Não. Prometo conversar. Mas não prometer nada depois que nossa conversa termine. Estarei um pouco ocupado.
- Certo.
Charles arrancou um pedaço de um processo que estava em sua mesa (era advogado), anotou algumas palavras e o deu a Edgard.
- Aqui está. Te espero às 8. Ah, sim: Espero que beba whisky, não tem nada além disso para lhe servir.
- Até logo, então.
E saiu, enfiando o papel no bolso.
O futuro suicida pensava, enquanto via seu mais novo (e único) amigo se distanciar. Por que havia convidado um estranho para ir à sua casa? Certamente queria conversar uma última vez, é claro. Como não deixaria uma carta nem um bilhete, queria pelo menos contar a alguém os motivos que o levavam a antecipar sua “paz eterna”. Não que não quisesse escrever uma carta, mas era um puta esforço inútil. Ninguém a leria mesmo.


Edgard estava com o endereço em mãos, na rua que o papel indicava. Mas estava muito longe do número da casa que procurava. Descia a pé, pois o ônibus o havia deixado bem no começo da rua. Baita roubo, o preço daquele ônibus!
Foi andando pela rua mal iluminada. As ruas pareciam ser todas iguais. Todas de classe média. À luz dos postes, no entanto, todas elas pareciam tristes e angustiantes.
Enquanto se aproximava de seu destino, pensava nos motivos que o levavam até lá. Iria tentar, é claro fazer o cara mudar de ideia. Mas havia algo de curiosidade em seu interior. Curiosidade em entender o que leva uma pessoa ao suicídio. Nunca conhecera um suicida antes e simplesmente não entendia. Tinha uma vida agradável, estável. Trabalho, alguns amigos, jogava bola aos domingos e depois bebia cerveja. Assistia o jornal e depois a novela todos os dias. Às vezes ia à igreja. Visitava sua mãe de vez em quando.  Não entendia o que aquelas pessoas esperavam da vida...


Chegou à porta que procurava. A casa era simples, mas não muito pobre. Olhou no relógio: 19:45. Estava adiantado. Pensou em esperar o horário marcado, mas estava muito ansioso e resolveu tocar a campainha.
Meio minuto depois, Charles atendeu a porta. Estava com a mesma roupa do trabalho, mas sem a gravata.
- Não é engraçado como chegar mais cedo que a hora marcada é extremamente grosseiro e chegar atrasado moda?
- Desculpe.
- Não se preocupe. Entre.
- Obrigado.
- Quer beber alguma coisa?
- Whisky com gelo.
- Haha! Não tenho gelo. É uma heresia! Beber um whisky 12 anos com gelo...
- Então sirva-me puro!
Sentaram-se com seus copos à mão. A casa era pequena, mas tinha tudo o que se espera: geladeira, fogão, micro ondas, sofá, TV, DVD... Uma coisa chamou atenção. Havia muitos e muitos DVDs na estante.
- São todos filmes?
- Sim, a maioria estrangeiros. Sou viciado em cinema. Sempre gostei. Já assistiu Clube da Luta?
- Creio que não.
- É uma pena. Ótimo filme.
Os dois ficaram alguns momentos em silêncio. Brindaram. Tomaram um gole da bebida.
- Ainda pensa naquilo?
- No que?
- Você sabe... em se... se...
- Em me matar? Claro, farei assim que você sair daqui. Não precisa se constranger. As pessoas superestimam morte. Evitam falar dela e quando falam é em um tom extremamente respeitoso. A morte não é nada demais, só nos tira aquilo que nos faz sofrer.
- Mas fazê-la chegar mais rápido? Sua vida não é tão ruim... olhe quantas coisas você tem aqui!
- Sim, tenho muitas coisas. Mas na verdade não tenho nada. Olhe, de que me adianta tudo isso? Eu compro uma televisão do último modelo e pra que? Preencher um vazio que me persegue. Eu fico feliz por ter comprado a TV, mas no outro dia, a mesma sensação está de volta e eu preciso comprar alguma outra coisa... É um ciclo infinito: é preciso comprar para ter vontade de comprar mais. Então quando já tiver coisas demais, preciso comprar uma casa maior para suportar todos os bagulhos que tenho aqui. Depois tenho que comprar um carro novo! Eu tenho que trabalhar para comprar coisas que não preciso, para agradar gente que não gosto. Já chega...
- Pois bem... Concordo que a vida material não é lá muito útil para ter felicidade, nunca nos preenche por completo. Mas você tem um emprego bom, ganha bem. Poderia ir viajar, não?
- Sim, poderia. O único propósito para se viajar é voltar descansado para trabalhar mais. É assim que funciona. Você é explorado por um ano e quando chega ao seu limite, descansa algumas semanas para ser explorado por mais um ano.
- Hey, eu passei duas ótimas semanas na praia. Tive que economizar um pouco, mas valeu a pena... Não entendo por que odeia tanto seu trabalho.
Os dois tomaram mais um pouco da bebida.
- Não odeio meu trabalho. Apenas odeio o fato de trabalhar para enriquecer o dono da porcaria do escritório. Ano passado ele aumentou em duas horas o tempo de trabalho e o equivalente à uma hora de trabalho no meu salário. É um grande filho da puta.
- Eu também não gosto muito dele, pra falar a verdade. – Argumentou Edgard. – Mas só isso não é motivo pra não querer mais viver. O que mais te incomoda.
Charles deu um suspiro cansado. Seu novo amigo não sabia se estava cansado por seu dia ou por sua vida. Preferiu ficar em silêncio. Serviram-se de mais uma dose generosa de whisky e continuaram:
- “O que mais me incomoda?” Ninguém nunca me fez uma pergunta dessas antes. Bom... São muitas coisas, mas vou procurar ser sucinto. Me incomoda ver toda a mentira que vem dos jornais. Me incomoda se gastar mais em guerra do que em comida. Me incomoda a podridão que emana de todo ser humano: mentiras, falcatruas, corrupção, assassinatos, roubos, miséria, exploração!!! Enquanto alguns têm dinheiro suficiente para comprar um país, milhões passam fome. E ninguém liga! Ninguém se importa! Estamos mais preocupados em saber quem vai ganhar o campeonato de futebol, em saber quem matou quem na novela das nove. Escolhemos que carro queremos daqui a cinco anos, escolhemos roupas de marca para mostrar que somos melhores que outras pessoas! Somo fúteis o bastante para passar ao lado de alguém que sofre e tem fome nas ruas e sequer olhar. Não nos comovemos.
Continuou:
- O que mais me incomoda? Humanidade! A falta dela... Só vale a pena viver enquanto formos humanos. E já deixamos de ser há muito tempo. Somos máquinas controladas por máquinas. Apenas números e inexpressões de manipulação em massa. Somos fantoches do Estado, do sistema econômico, da mídia, da classe dominante, da religião, escravos do dinhe...
- Religião? Não acredita em Deus?
- Ninguém acredita em Deus até que alguém diga que você deve acreditar.
- Mas você tem que acreditar em alguma coisa! Não é possível que você não acredite em nada!
- Mas é verdade. Estude a fundo a história da religião que você entenderá o que quero dizer. É apenas mais uma forma de manipular o que você deve ser. A bíblia não passa de um manual de instruções em que acreditar e o que se seguir.
Edgard estava inconformado.
- Mas se a bíblia é uma mentira? O que é verdade?
- Que verdade, meu caro? Não há verdade! Toda verdade encobre uma mentira. Nada disso é real. A liberdade é algo que os guardas da prisão nos fizeram acreditar. Assim não teriam problemas com revoltas.
Mais um gole.
- Você perdeu a fé na vida?
- A vida perdeu a fé em mim. Não nos damos bem...
- Mas...
- O que?
- Não sei mais o que pensar.
- Se quiser, ligue a TV. Eles lhe dirão o que pensar.
- Não! Não quero mais que me digam o que fazer.
- Não tem jeito. De uma maneira ou de outra você terá que fazer o que lhe mandam. A diferença é que antes você não sabia que alguém ditava as ordens. Agora você sabe. A única coisa que muda é que você terá que fazer as mesmas coisas que antes com uma revolta que você não tinha antes.
- Não há maneira de escapar?
- Não encontrei nenhuma. Nem mesmo a morte escapa do sistema.
- Então por que se mata?
- Porque pelo menos assim me livro do que mais me incomoda.
- E o que é?
- A vida.

Com um grande pesar, um olhou para o outro. Havia certeza nos olhos de Charles e dúvida nos olhos de Edgard. Um sabia o que fazer, o outro não. Mas ambos sabiam que a conversa havia terminado...
- Com o que se matará?
- Cicuta. Homenagem à Sócrates.
- Tem dose pra dois?
Então os dois brindaram pela última vez. 

16 de abril de 2013

Completa

Não consigo em ti apreciar beleza,
que não seja ela por completa. 
Não posso deslumbrar apenas teus olhos, 
ou apenas tua boca, nem tuas pernas, nem teus seios. 

Não vejo em ti perfeitos cabelos, apenas. 
Nem um belo rosto, nem um belo corpo. 
Quando passo por ti meu olhar, 
não me atenho a seu modo de andar,
nem seu jeito de olhar. 

Enfim... Não vejo em ti beleza dividida, 
partes de uma beleza mediana, comportada. 
Vejo em ti beleza inteira, beleza perfeita.

E será pra sempre linda de toda sua beleza.
E ainda que não consiga escolher
qual parte é  a mais bela, 
sei que ela será eterna.

14 de abril de 2013

Implícito

As coisas simples da vida não têm graça.
Eu gosto é de ver seu jeito complicado em meu espelho, 
de tentar desvendar esse labirinto implícito em seus olhos. 

A verdade fácil não me atrai. 
Uma mentira elaborada, uma diversão inventada...
uma maçã envenenada é muito mais saborosa.

O explícito é cômodo. É rotina. 
A complicação é que ensina. Que inspira.

24 de março de 2013

Receita

Cabeça doendo
os dentes rangendo,
os olhos ardendo.
O pensar sedento,
Coração batendo...

O ódio latente,
entra na mente,
e a gente, inocente,
Inventa e mente.
Se sente doente,
Morto e descrente.

Tudo bem, obrigado.
Afinal, sempre está.
É uma arte odiar.
Já está no olhar
na pele e no ar.

A mesma emoção
do céu ao chão.
A raiva em ação,
o prego na mão...

E o ódio no olhar.

23 de março de 2013

Dançando no Escuro

Enquanto eu espero pelo certo
sento-me sozinho no escuro. 
Em meio a sentimentos incertos
que não posso tocar.

Mas uma doce alma complacente
estende suavemente sua mão
e me convida pra dançar.
Sinto o ritmo do silêncio, 
dançando no escuro...
Sigo o ritmo e o Silêncio,
pra lá e pra cá.

O compasso é harmônico
a sintonia é o bater dos corações
ritmados, intimados a amar.

As poucos as luzes se acendem.

Onde havia escuridão, faz-se luz
e com ela, surgem as borboletas 
e as bolhas de sabão. 
E uma linda companhia,
que me desperta emoção
com quem vou,
 pra lá e pra cá.

A dança infinita, enfim, finda.
E volta a escuridão. 
Mas sei que haverá alguém 
que me fará ver a luz, 
estendendo sua mão.

Haicai

Em meio a tantas estrelas que salpicam meu céu
concentro minha atenção em apenas uma, pequenina.
Aquela no canto da paisagem, que insiste em brilhar sozinha.

11 de março de 2013

Hino ao manifestante injuriado

Apesar dos pesares
das injustiças e dos males. 
Apesar da corrupção dos deputados
e toda a sujeira do senado,
olhando para o lado 
para os companheiros injuriados
nos rostos e nos gritos vemos
a grandeza dos pequenos.

Apesar da opressão
da repressão e omissão,
insistem os justos na denúncia
exigimos, se preciso, a renúncia.
Se reúnem e sabem o que querem.
E que queiram. E que sonhem!

Como se fossem flores, espalham ideais.
E a polícia vem pra cima, 
como se fossem animais.
Não se cansam e não se cansarão.
E além disso, dizem mais:
Não se contentarão 
até termos todos direitos iguais.

8 de março de 2013

Estrela

Uma estrela no céu cai em labirintos
de desejos secretos.
Um sorriso certo bate aqui ao lado,
um beijo no deserto mata minha sede
e me faz querer dançar.
Sozinho ao seu lado sonho acordado,
em loucos versos que posso não ter.
Passo meus dias imaginando
o que poderia acontecer
se de repente as estrelas te trouxessem
pra mais perto de mim.

5 de março de 2013

Depressão

Vem do âmago da decepção do homem,
em que se vê nu perante ele mesmo e perante o outro.
Se envergonha do que é e do que jamais foi, 
sabe bem que jamais será também. 

Nada sabe demais, além do óbvio, do ópio que aturde.
Das mãos que esmagam, dos olhos que afastam e das palavras que matam.
Nada além do óbvio, o que vemos por aí. 
Um rindo, outro chorando, um no passado, outro nem tanto. 

E as ruas cheias de gente são grandes desertos.
Pois ali estão pessoas, mas não estão sentimentos. 
Só permanecem de pé pequenos fragmentos que não são mais que objetos,
discretos à luz do poste, ou da loja em que compram mais dejetos.

Sejam eles humanos ou não. Nunca o são.
Pois fazem parte da desumanização do corpo, da alma e do coração.
Nada mais que pequenos falsos diamantes que se pensam valiosos como um amante,
mas não passam de vidro frágil, pronto a se quebrar a qualquer instante.

1 de março de 2013

Desilusão


Essa é a primeira fotografia que tiro artisticamente.
Desilusão... Quebrado, inútil, vazio...

28 de fevereiro de 2013

Paraíso

Ouço e vejo
sinto e perco
no teu segredo,
junto ao peito
levo o terço
da infame santa
nua e branda.

Reconheço
o desejo
em teu bocejo,
declamado,
deflagrado,
difamado,
por nós
inventado,
por Deus
aprovado.

Rezo, espero
amo e levo.
Tudo eu quero
nada certo,
tudo errado
fruto e pecado
redenção negada
árvore sagrada
nega e some
se torna homem
em nosso nome.

Sol da manhã.

Como o sol que nasce a cada manhã,
assim é teu amor.
Aquece meu ser quando aparece,
mais belo que qualquer obra de arte.
Assim é teu amor pra mim.
Por mim.
Em mim.
Assusta quem não conhece,
surpreende quem o perde.
Assim é a magia do sol nascente.

Traz consigo mistério e emoção,
escândalo e paixão.
Assim é teu amor.
Ao findar da alta madrugada,
ao surgir da passarada,
saberei que o sol estará lá.
Espero dessa maneira encontrar seu amor
sempre que eu procurar.

26 de fevereiro de 2013

Sociedade

As pequenas doses de veneno, 
que damos um ao outro
são insuficientes para nos matar, 
mas podem nos trazer algo pior.

Onde céu e inferno estão separados 
por apenas um fio de lucidez, 
a dignidade é mais que não estar pelado
diante a uma multidão que vaia.

Conversa e silêncio
andando juntas, lado a lado.
Nós sempre temos companhia, mas  
estamos mais sozinhos do que nunca

O sangue que escorre da verdade
é amargo demais para ser bebido
mas é suficiente para lavarmos a alma e
cuspir a inescrupulosa covardia que nos aturde. 

Um pouco de hipocrisia, por favor.
Os sorrisos cravejados de desprezo.
Apenas a destreza necessária para não me cortar
nesse grande e cruel malabarismo de facas.

19 de fevereiro de 2013

Vida normal

Eu passava pela rua
sorria para conhecidos e
abraçava meus amigos. 
Eu ria de piadas engraçadas
tirava sarro das sem graça,
quando sabia, também contava.
Eu escrevia cartas de amor,
também dizia que amava,
fingia não sentir dor, 
mas sabia da verdade.
Todas as noites, quando me deitava
me virava pra parede
e em silêncio chorava.

18 de fevereiro de 2013

Esquecer.

Não sei o que fazer. Às vezes penso que seria melhor se eu pudesse te apagar da minha memória. Penso que seria melhor se eu passasse na rua e não te reconhecesse. Apenas olhasse, desse um sorriso tímido e continuasse meu caminho. Você faria o mesmo. Não haveria a dor que estou sentindo nesse momento. Não haveria mais lágrimas. Não haveria mais nada.
Mas enquanto escrevo, com os olhos cheios de lágrimas, segurando o choro, tão fortemente quanto é possível, penso em nossos momentos juntos. É claro, houveram desavenças. Houveram brigas, houveram mágoas, houveram lacunas. Mas isso se tornou uma lembrança meio esquecida. Não me lembro dos detalhes. Não me lembro dos sentimentos. Não me lembro ao menos o porquê!!! Mas há em minha mente, aqueles bons momentos, dos quais jamais esquecerei, e no fundo, jamais quero esquecer. 
Me lembro do nosso primeiro beijo. Me lembro e sinto aquela mesma sensação, como se eu estivesse lá. Me lembro do nosso primeiro show juntos e como esquecer os momentos que passamos no rancho??? Me lembro das vezes que assistimos filmes em sua casa, e da vezes que não exatamente assistimos ao filme... Me lembro do modo como você me olhava, do modo como sorria quando ouvia "eu te amo" e o modo como dizia isso. Era especial. Ainda posso ouvir o eco dessas palavras. Ainda posso me sentir único, eterno, quando as ouço. Me lembro de quando eu te liguei, no primeiro natal que estávamos juntos. Me lembro da primeira rosa que te dei, e de sua reação. E como esquecer de quando eu lhe dei nossa aliança? Como esquecer de todos nossos momentos? Como esquecer do nosso segundo primeiro beijo? Era como se fosse uma noite de Natal... e era. Como esquecer de nós, juntos na praia, mergulhando. Ou depois, apenas ficando juntos? Como esquecer desses e de tantos outros momentos???
Não consigo, mesmo que por um segundo, me esquecer. Sinto seu perfume, como se estivesse em meus braços. Vejo teu sorriso e teus olhos, como se te visse. Somos uma só história, contada de maneiras diferentes. 
Penso em como seria te esquecer. Eu não me lembraria de nada, mas sentiria um grande um grande espaço vago em meu peito. Me sentiria vazio e nada mais poderia me preencher.

15 de fevereiro de 2013

Queda

O amor reprimido 
se traveste em ódio.
O garoto tolo cresceu
e agora sabe se defender.
O destino foi traçado quando
uma luz cortou os altos céus.

Algumas rosas roubadas
de um jardim secreto
morreram esquecidas
logo após encantarem aos olhos
e perfurarem o coração.
Aquelas rosas sabiam
mesmo machucar.

Algumas coisas simplesmente
não se aprendem em um livro.
É preciso sofrer de verdade
para finalmente saber como amar.
Voltar a ser uma criança
errar e teimar, mais de uma vez.
Cair e se machucar para aprender a andar.

Disseram mais de uma vez
que as pessoas se queimam
ao voar perto demais do sol.
Mas às vezes é preciso ser louco
correr os riscos e ver a morte
te encarando, te ameaçando.
E então gritar de volta que
o impossível não assusta mais.

13 de fevereiro de 2013

Vou-me embora pra Brasília


Vou-me embora pra Brasília
Lá sou amigo do governador
Lá tenho o salário que eu quero
No cargo que escolherei

Vou-me embora pra Brasília
Vou-me embora pra Brasília
Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma falcatrua
De tal modo inconsequente
Que Dilma a pelega do Brasil
Presidente e falsa combatente
Vem assinar o contra cheque
do emprego que nunca tive

E como farei política
Andarei de carro oficial
Sentarei na cadeira do Senado
Subirei na tribuna
Farei uma conta na Suiça.
E quando estiver cansado
Viajo pra Paris
Mando chamar a mídia
pra contar as histórias
Que no tempo de eu menino
Lula vinha nos contar
Vou-me embora pra Brasília.

Em Brasília tem tudo
É outra civilização
Tem um processo corrupto
de impedir a legislação
Tem débito automático
Tem dinheiro a vontade
Tem um povo ignorado
pra gente governar

E quando eu estiver mais triste
Mas triste de não ter jeito
Quando no julgamento me derem
Pedido de cassação
- Lá sou amigo do governador -
Terei o salário que eu quero
no cargo que escolherei
Vou-me embora pra Brasília.

9 de fevereiro de 2013

Agora é seu também.

Lágrimas caem e
ecoam por rachaduras
em um coração marcado.

Vidas bailam perdidas
entre amor e ódio,
pena, rancor e sonhos.

Almas se encontram,
se entrelaçam e arrebentam.
Se confundem e recomeçam.

Entre vidas e almas,
maldições e salmos,
leva metade de mim
e eu serei metade de ti.

Guarda escondida
a saudade no peito.
Leva sempre contigo
o sabor do meu beijo.

Voltei pra curar o que doía.
Pra sarar antigas feridas
restaurar a confiança perdida.

Leva no peito, meu bem,
A alma que lhe darei
o que tenho de mais valioso
agora é seu também.

6 de fevereiro de 2013

Azul Escuro.

O azul escuro de toda história
é vê-la chegar ao fim.
Sentir os laços se desfazerem 
e os prazeres não darem mais prazer.

Ver azul escuro
é ver as constelações explodirem 
em milhões de fantasias
e nenhuma delas cair aos meus pés.

Vida em azul escuro, 
consciência de incerteza
amor pela beleza de não ser.

Azul e, de repente, escuro.
Sem fim, sem começo.
Esquecemos tudo o que fomos
e o que poderíamos ser.

28 de janeiro de 2013

Tempos e tempos

Me lembro bem...
Das contagens regressivas mentais, 
dos balanços astrais
de nossos amores passados.

Somos viajantes do tempo, 
Amantes do vento. 
Perdemos a última passagem
que iria pra nunca mais...
Terei que ficar, até que seja tarde demais.

Questão de gosto e desgosto,
podemos ser melhores amigos
assim que trocarmos olhares fatais.

Tempo perdido, amores amigos.
Sendo detido por um crime esquecido. 
Fugimos unidos, por um só destino
a porta é uma, mas são muitos caminhos.

Seremos eternos à nossa maneira. 
E tudo bem se o dia não terminar como queria,
amanhã será bem melhor, 
será outro dia, outro sol
que brilhará sobre as nossas cabeças.

Será bem melhor.

12 de janeiro de 2013

Destinos astrais

Com tua boca tão macia, 
e teu beijo tão mortal. 
Eu pareço um garotinho 
em uma noite de natal.

Passo por ruas e avenidas, 
esperando te encontrar. 
Se sei que estás distante,
desejo poder voar.

Uma mordida na maça, 
um telefonema a mais. 
Queria ser o tempo,
pra poder voltar atrás.

Nos meus meros caminhos,
descalço vou andar.
Pra poder sentir espinhos
e quem sabe te amar.

Marcas de um verão,
nos tornam mais reais,
nossa história na terra 
foram destinos astrais.

7 de janeiro de 2013

Doce sabor, amor.
Doce ilusão, amarga tentação.
Austero conflito, 
em vinho embebido.

Através do vidro quebrado da janela
pode-se ver minha mente mudar,
pode-se ver meu mundo cair, 
minha vida ruir.

Grave em sua mente minha expressão,
o vazio que levo no peito.
Ele um dia será nosso...
Dividido em doses iguais de whisky.

Sarcasmo do destino, 
ter-te aqui comigo, em meu peito, 
E tão longe de qualquer sensação...
Posso sentir sua respiração,
mas não o seu amor.

6 de janeiro de 2013

Despedida.

Sei que não gosta que eu diga, 
mas precisava te falar uma vez mais
que te amo, e só a ti amo.

Ficarei bem, apesar de ir embora, 
não se esqueças de mim.

A gente nem se despediu...

Só peço que não se desculpe.
Nada disso é culpa nossa,
faz tudo parte de nossa história.

Agora que estamos distantes,
só nos resta sorrir. Esperar e sorrir.

Pra que quando te vir novamente
se veja um beijo, ao invés de lágrimas.
Um beijo... 

Vida.

Felicidade...
Bate no peito a ansiedade,
a falta de coragem ao regressar
de uma luta armada, onde há banho de sangue.

Vida...
Lembrai de dias felizes
onde diziam que duraria pra sempre.
Não... não sobrou um resquício sequer
dos tempos onde eras alguém.

Angústia...
Que suga das estranhas de um coração partido
a doce ilusão de um final feliz que nunca virá.
Cicatrizes marcam teu coração e tua alma
como se chibatadas fossem distribuídas por aqueles 
que nunca viram e nunca virão a luz do dia.

Fim...
E então, como um mero infeliz, cansado de ser enganado
tira a própria vida, que crê que nunca teve. 
É chamado louco, pelos loucos que não sabiam da realidade.
Enfim... com uma lâmina ao peito, jaz ao seu leito 
sem impor sua dor a ninguém... 
Só a si mesmo.
E pensa: Nunca mais.

4 de janeiro de 2013

Inércia

Socorri teu amor,
das profundezas de um oceano escuro. 
torci apenas por uma reação, 
algo que pudesse me dizer:
Sim, estamos vivos. 

Mas o que vi foi inércia.

Toda aquela paixão estava ali
à flor da pele novamente,
mas inerte, eu senti, inerte. 

A hora não é agora...
Estou adiantado para o grande
 banquete de boas vindas.

Deixarei ali, nu, como encontrei. 
Me sentarei onde há sombra e esperarei.
Enquanto isso escreverei teu nome na areia
e pedirei com fervor ao tempo, pai da morte,
que tenha compaixão e faça os dias passarem logo.

E esperarei... 
o quanto for necessário estarei ali, 
do lado de fora do muro, eu estarei.
Voltarei ao chamar-me meu nome,
com uma rosa em uma mão, 
e na outra, muita saudade.

Lá fora,

Dê-me a lâmina mais afiada
porque meu dragão é o maior. 
Mandaram-me para uma missão suicida
infelizmente não sou frio o suficiente.

Meu sangue corre rápido
e eu preferiria não estar lá.
O mais bravo dos heróis,
o mais covarde dos amantes.

Imerso em um oceano congelado 
onde minhas lágrimas são ínfimas.
Ondas lavarão meu peito sujo
de suor, lágrimas e sangue.

Jogarei meu terno de linho fora,
minha armadura ficou pronta. 
Não vou mais me preocupar,
fiz minha oração de todo dia.

Desconfortável em meio aos dominós que caem um a um 
espero minha vez, abraçado ao meu roteiro.

Aqui na minha cabeça.

Aqui na minha cabeça
tem uma pequena criança
que chora a todo instante
pedindo por colo e consolo.

Aqui na minha cabeça
tem um segredo que vou te contar:
eu sou diferente de todos
em volta de mim.

Tudo gira e vai pro alto, 
o sol parece tão perto. 
Levem-o pra longe de mim,
pra eu poder dormir em paz.

Se eu pareço bem é porque trancafiei
 aquele pequeno incômodo,
 que chora e berra, no porão, 
ao lado do bicho papão.

Aqui na minha cabeça, 
só o que peço é um pouco de silêncio. 
Se estou um pouco irritado hoje 
não liguem, é só o barulho aqui dentro.

1 de janeiro de 2013

A nós.

Nós, que somos mais 
que meros espectadores, 
nos tornamos atores dessa
fatídica tragédia da vida. 

Nós que não nos conformamos 
em seguir o roteiro nos dado, 
escrevemos nossa própria história 
no maravilhoso livro da vida.

Nós que corremos atrás
daqueles sonhos mais impossíveis,
como se estivessem logo ali na esquina.

Nós que temos a certeza de ser.
De ser mais, de ser melhor. De apenas ser.
Nós... fieis seguidores de nós mesmos.

A nós, um final feliz
digno de nossa eterna caminhada.

Para Carina Paludeto.