6 de março de 2014

O outro

Quando olho em seus olhos tudo o que vejo é tristeza.
Sem piedade, sem raiva, sem receio, sem medo. Tristeza.
Ver o que se tornou, sentir o que sente e pensar o que pensa
Tudo isso me traz as lágrimas que nunca tive. E nunca terei.
Minto,
não é só tristeza.
Náuseas. Ânsia. Nojo.
É o que sinto quando olho em sua face descarada, desfigurada.
Desfigurada não por cicatrizes e hematomas, mas pelos pecados,
pelas garrafas vazias quebradas e pelo resto de batom que sobrou em sua roupa.
Sim, meus olhos também sentem o cheiro fétido de sua alma.
Conhaque barato, perfume feminino e charuto se misturam
Impregnando seu corpo de culpa e pecado.
Tristeza e náusea. Ah, sim... me esqueci da vergonha.
Sim, vergonha. Quando olho para sua silhueta cambaleante também sinto vergonha.
Não há nada o que fazer.
Apenas aceitar.
Mas o cinzeiro do criado mudo voa em sentido ao corpo parado em minha frente.
Foi um lapso, descontrole.
Mas, como disse, não há nada a se fazer.
Na verdade talvez esteja me sentindo um pouco melhor.
Mas agora preciso comprar um novo espelho... acabei de quebrar o meu.

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