10 de julho de 2012

Pais

Queria acertar os ponteiros daquele
velho relógio pregado na sala.
Tentar agarrar o mundo com as mãos...
mas está frio demais para tirá-las do bolso.

Se não almoçar tudo
não vai ganhar sobremesa.
É preciso fazer um esforço a mais.
Nunca é demais e você sabe.

Não que eu não queira ajudar...
levantar as mãos aos céus e rezar
parece tão fácil, tão precioso
aos olhos dos santos de pedra.

Os cobertores de seda não podem esperar.
Me mandaram dormir antes das 10.
Queria brincar mais, fazer de conta,
mas o toque de recolher foi dado.
Vai começar a novela.

Não posso reclamar...
Meus pais me dão tudo o que preciso.
Faço quase três refeições por dia,
me dizem o que é educação e
se fico doente juram que vai passar.

Me põem pra dormir e até mesmo
cantam cantigas de ninar.
Os pesadelos não são permitidos,
me proíbo de sonhar.

Me disseram ontem que fazem
sempre o melhor pra mim.
Por isso mesmo me proibiram de ir ao quintal,
um lugar terrível, onde a liberdade pode me encontrar.